Aparições públicas de Barroso com CEO do iFood levantam questionamentos sobre imparcialidade no STF

O Judiciário brasileiro não precisa de performances para redes sociais. Precisa de postura, compostura e respeito institucional. Em um cenário político cada vez mais marcado por aparências e simbolismos vazios, a recente participação do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, em um jantar privado ao lado do CEO do iFood, Diego Barreto, causou forte repercussão e levantou dúvidas sobre os limites entre o público e o privado nas altas esferas do poder.

O evento, descrito como beneficente e promovido com a justificativa de apoiar um programa de ações afirmativas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), teve um tom descontraído – com direito a Barroso cantando ao lado do empresário anfitrião. No entanto, o gesto simbólico esbarra em um problema real: o iFood é parte interessada em ações de repercussão geral que tramitam no STF, relacionadas ao vínculo empregatício entre entregadores e plataformas digitais. Ou seja, o anfitrião do jantar é diretamente afetado por decisões que podem ser tomadas pela Corte presidida pelo próprio homenageado.

O episódio reforça uma preocupante sensação de promiscuidade institucional, em que relações próximas entre magistrados e agentes econômicos poderosos colocam em xeque a imparcialidade e a confiança pública no Judiciário. O contraste é gritante: enquanto entregadores enfrentam jornadas duras em troca de poucos reais, a elite do poder se reúne entre discursos, vinhos caros e pratos refinados, em uma cena que mais se assemelha a uma confraria do poder do que a um compromisso com a justiça.

A naturalização desse tipo de convivência entre magistrados e representantes de empresas com interesses diretos em processos judiciais cria uma perigosa banalização do decoro. A confiança da população na isenção da Suprema Corte sofre mais um duro golpe, em um ambiente onde críticas são rapidamente classificadas como injustas ou ataques à democracia.

Mais do que eventos simbólicos, o Judiciário precisa demonstrar compromisso ético e institucional. Não com aparições ensaiadas para o Instagram, mas com ações que inspirem respeito, transparência e independência. Afinal, o que está em jogo não é a imagem de um ministro, mas a credibilidade de toda uma instituição.

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