Vivemos um dos momentos mais desconcertantes da história republicana brasileira. O que se vê atualmente é a inversão de princípios fundamentais que sustentam o Estado democrático de direito. O Supremo Tribunal Federal, que deveria funcionar de forma colegiada, tem sido conduzido por decisões monocráticas de um único ministro, enquanto os demais parecem abdicar de seu papel constitucional — ainda que continuem recebendo como se atuassem com isonomia e responsabilidade.
A desproporção não para aí. O Congresso Nacional, que deveria exercer com independência sua função de fiscalizar, legislar e representar o povo, demonstra uma preocupante subordinação ao Judiciário. A harmonia entre os poderes, prevista na Constituição, transformou-se em submissão silenciosa.
O episódio recente envolvendo o ex-ministro Aldo Rebelo foi emblemático e revelador. Dono de um notório saber e de vasta experiência pública, foi convocado a depor em uma Comissão Parlamentar que mais parecia um tribunal inquisitório. A forma como foi tratado, com desrespeito e tentativas de intimidação, remeteu não a um ambiente republicano de busca pela verdade, mas a um espetáculo de constrangimento. Comparações com Pilatos não são descabidas — ao menos o personagem bíblico lavou as mãos diante da injustiça. Já os que conduziram o interrogatório fizeram questão de manchá-las.
Como se não bastasse, o Procurador-Geral da República — figura que deveria ser símbolo de isenção, técnica e firmeza institucional — cometeu uma gafe pública em pleno processo, demonstrando um nível de despreparo ou servilismo que envergonha o cargo. Se isso ocorre sob os olhos de todos, o que não estará acontecendo longe das câmeras, nos bastidores dos inquéritos e das delações?
A condução da PGR, nesse contexto, parece mais alinhada à conveniência política do que ao compromisso com a Constituição. É no mínimo preocupante. A sociedade espera de seus representantes — em todos os Poderes — coragem, postura e respeito às garantias democráticas. Mas o que se vê é um circo armado, onde o espetáculo é o desrespeito e a desconfiança, e o povo, sempre ele, segue sendo o palhaço involuntário.
Como disse recentemente o pastor Silas Malafaia: “Deus tenha misericórdia do povo brasileiro.” De fato, é de fé que precisamos neste momento, mas também de vigilância. Porque, embora a justiça humana seja falha, a história já mostrou que a verdade não pode ser sepultada para sempre.
A esperança permanece viva: o Brasil é maior do que os interesses de qualquer grupo. Que a verdade prevaleça, e que os abusos não resistam ao tempo.